por António Kalunga em Segunda Nov 29, 2010 8:39 pm
A determinação de Norton de Matos e a solicitude de Vicente Ferreira não são de facto vãs. Nova Lisboa corresponde desde o início aos augúrios de ambos e procura não desmerecer o seu topónimo.
Gente oriunda da Metrópole chega ao ritmo dos paquetes que escalam o porto do Lobito. São famílias inteiras de carpinteiros, pedreiros, torneiros, escriturários, até de técnicos com formação superior (como médicos, advo-gados, engenheiros), que vêm em ondas ajudar a concretizar o sonho visio-nário.
Alguém escreverá anos mais tarde que quem chega tem a sensação ime-diata de encontrar uma cidade «à procura de casas» ou de casas «à procura de uma cidade», tal a inexistência de planificação urbana. De cores variegadas (brancos, amarelos, cor-de-rosa) os cosmos florescem sobre o capim que abunda por todo o lado e avançam até às bermas dos arremedos de ruas e avenidas que as Comissões Municipais abrem da Alta à Baixa.
Os espaços vazios entre os edifícios em construção são numerosos, mas também tão grandes e extensos que revelam bem o potencial de progresso que hão-de propiciar. Quem queira e possa abrir aí alicerces para levantar uma residência, uma loja, uma oficina, não importa o quê, encontrará facil-mente o terreno necessário.
Premiando todo este esforço, Nova Lisboa é designada em 1934 para sede do então criado Distrito do Huambo, que faz parte da Província de Benguela. O facto é importante e estimula significativamente o acréscimo de fogos e de habitantes, que há-de ultrapassar as previsões mais optimistas. Para o surto agora imparável, contribuem o recurso à energia eléctrica, que passa a ser possível com a construção pelo CFB da barragem do Cuando; a criação pela Santa Sé de uma diocese católica, com a instalação do epis-copado respectivo; a proliferação de actividades económicas diversas; até mesmo o arranque de iniciativas mutualistas e cooperativas.
Em relação ao perímetro de expansão, a cidade desdobra-se: não é já apenas um, mas três aglomerados distintos. O fenómeno acompanha aliás o que sucede frequentemente em África, sempre que o colonizador branco estabelece povoações para garantir a ocupação do território e favorecer o desenvolvimento subsequente.
Fica de um lado o bairro residencial do CFB, que se basta a si próprio. Há aí quase tudo: um centro de aprovisionamento de bens de consumo essen-ciais, chamado o Armazém; um clube de futebol, o Ferrovia, com o campo de jogos e um salão de festas muito activo; um hospital provido de pessoal especializado e equipamento técnico; outros recursos importantes, que facilitam o dia a dia das pessoas.
Fica do outro lado a cidade propriamente dita, com as repartições públi-cas, a estação do caminho-de-ferro, as escolas e os colégios, os estabele-cimentos de comércio, as sedes e as delegações de sociedades empresariais de origem local ou de proveniência exterior (como a Companhia de Bengue-la, «Chibera», e a Companhia Agrícola e Pecuária de Angola, «Capa»), agremiações de desporto e cultura (como o Rádio Clube do Huambo e o jornal O Planalto, que reclamam o dever de dar voz e palavra aos que pugnam pelos interesses da terra), por fim os bairros que se formam à volta e são baptizados com nomes que têm pouco de angolanos, mas muito de portu-gueses (São João, São Pedro, Santo António, Benfica).